Sunday, September 23, 2012

Gerónimo e o Polvo

Digo, sem pingo de vergonha nem doce perdão,
Se me roubaste uma azeitona ou um tremoço,
Não tenho outro nome para ti senão ladrão.
Quero lá saber se és sem abrigo e sem almoço!

Tudo aqui tem mais sabor, tudo aqui tem mais carinho?
Pá, não acredites em tudo o que vês na TV.
E roubaste-me um polvo, não me roubaste um pão.
Mas que fome é essa com requintes de gourmet?!

Primeira necessidade? Não a podes invocar.
Não fui eu que disse, foram os doutos juizes.
Como é que te atreves ainda a ter paladar?
Mas porque não tem ainda a tua língua varizes?!

E, explica-me o paradoxo, um frasco de champô?!
Mas eu pensava que tomavas banho de chuva,
Que, enfim, nesse teu jeito marginal e rigolô,
vestias a causa ecológica como uma luva!

Um rico que me roube um milhão é artista,
Um pobre que me rouba assim, bah, nem cagança
Tem que me valha um doce traque de admiração.
Mas, enfim, a gente pinga-se por boa cobrança.

Estas histórias de pobre fazem vender jornais.
15 minutos de fama grátis, queres melhor tributo?
Vais ter grupo no Facebook e página no Google+.
Eu aqui, na Holanda, a fumar um charuto,


Enquanto tu deambulas na cidade,
Livre e rindo da Justiça que não te deita a mão.
Sou mais uma vítima desta iniquidade
E ainda me chamam Jerónimo, O-Sem-Coração.

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